Belo Horizonte é conhecida como a capital brasileira dos bares e botecos. A fama butequeria de BH lhe dá identidade, faz parte da sua tradição e é um aspecto cultural relevante. Esse blog será espaço para discussão, compartilhamento, comentários, sugestões, divulgação que perpassa a relação de BH e os bares. Como BH é o nosso lar, os bares são como os doces espaços que nos remete imediatamente à cidade: "Lar, doce, lar... Bar, BH, bar..."
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
A Savassi
O charme da Savassi vem de longe, dos anos 40, quando se instalou na região a Padaria Savassi. A padaria era o estabelecimento mais luxuoso e moderno de Belo Horizonte, com balcões de cristal, luz indireta nas vitrines, mesas de metal cromado e mármore, além de cadeiras de sucupira que compunham o salão de chá. Todo esse clima fazia da Padaria e Confeitaria Savassi, o ponto de encontro de personalidades da política, da cultura, do empresariado e das artes de Minas Gerais. A frequência às tardes de chá e café na padaria foi se avolumando com o grande número de artistas, intelectuais, professores, funcionários públicos e firmando o sucesso do estabelecimento. Com o estagnamento do glamour da região central da cidade, a partir dos anos 60, a região em torno da Praça Diogo de Vasconcelos foi abrigando as principais lojas, boutiques, sapatarias, alfaiatarias e cafés e também atraindo o público cativamente boêmio. Mas a região passou a ser referida com o nome do estabelecimento mais antigo, a padaria da família Savassi. A padaria cerrou suas portas, mas o nome Savassi ainda está consolidado para indicar essa parte do bairro Funcionários que é um dos pontos mais valorizados da capital e também dos mais charmosos. Mesmo com o boom dos shoppings centers, a partir da década de 1990, para onde foi se concentrando as lojas mais sofisticadas, a região da Savassi ainda inspira e atrai olhares dos mais antenados, boêmios e modernos de Belo horizonte. Local para ser e ser visto, abriga a diversidade das tribos urbanas e variados públicos. E os bares da região estampam essa diversidade de rostos e tipos que fazem da Savassi, um circuito importante da diversão e do lazer belorizontino. Os bares e cafés que se estendem pelos quarteirões e ruas próximos à Praça da Savassi, que é o coração da região, servem como termomêtro do que a noite promete ou do fim do dia que se foi, na hora dos happy hours. Nos bares, acontecem os esquentas antes da esticada para as boates e inferninhos da região: Velvet, Obra, Mary in Hell, Dduck, Josephine, Roxxy.... Os exemplos dos espaços noturnos refletem os bares e cafés que atraem o público multifacetado que transitam pela região: de modernos a góticos, de emos a metal, de mauricinhos a minimals, de eletrônicos a mpbistas... Baiana do Acarajé, Rei do Pastel, Café com Letras, Dalva, Bar do João, Arroz com Feijão, Assacabrasa, Tudão, são alguns dos nomes mais lembrados e dos bares mais sentados e onde mais se bebe nessa região de que se tudo vê e se aprecia na capital mineira. Bares e Savassi são uma combinação perfeita para os butequeiros de copo e da pena!!!
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Bar - sinônimos próximos ou aparentes...
Qual o significado de bar? Há referências históricas, regionais e sociais pra lidar com os nomes vários com que se atribui aos bares... Vejamos
BAR = buteco, birosca, taberna, taverna, point, postinho, butequim, inferninho, pardiero, samba, gafiera, "copo sujo", rendez-vous, "portinha", cantina, cervejaria, choperia, balcão, cachaçaria, barzinho, pagode, palhoça, campinada, putero, café, casinha.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
sábado, 31 de julho de 2010
O Maletta, o templo nº 2
Aos apaixonados e entusiastas da arte de butecar em Belo Horizonte, o centro da cidade é uma pérola. E para quem "buteca" de verdade nessa cidade o Maletta, como é carinhosamente lembrado e chamado, é o principal ponto de referência da região central da capital.
O edifício Archengelo Maleta foi inaugurado na década de 50, no cruzamento da Av. Augusto de Lima e da tradicional Rua da Bahia. O novo prédio se instalou no mesmo lugar que o antigo Grande Hotel, que datava do início do século XX. O café do antigo hotel sempre foi um importante ponto de encontro dos boêmios, artistas, univeritários, políticos da capital e encarnava um cenário importante da vida cultural e social da capital. Mas, naquela época, cheia de glamour e com o provincianismo de tentar imitar os cafés de Paris.
Quando o Maleta ali foi construído nos anos 50, o antigo prédio veio abaixo mas a fama daquele cruzamento permaneceu e se alocou no novo edifício em meio aos vários bares que ali foram se instalando ao longo das décadas seguintes, como a tradicional Cantina do Lucas (desde 1962).
O Maletta foi inaugurado em meio à revolução de costumes e do rápido processo de metropolização que se deu na cidade, a partir do final dos anos 50 e principalmente, os 60. O público fequentador do novo espaço também contemplou as mudanças da sociedade e se encaixou ao perfil de boêmia que o edifício foi concentrando, revelando a simbologia do Maletta para a revolução cultural, social e de comportamento que Belo Horizonte também experimentou durante esse período. Os inúmeros bares que estão instalados até hoje no primeiro e segundo andar da galeria do prédio divide o espaço com os sebos, lojas de disco, barbearias, lan-houses, restaurantes, e outros comércios. Ao longo do dia, e principalmente da noite, os convivas dos bares dividem-se entre as conversas de butequim, as cervejas geladas e os tira-gostos.
O cheiro de comida gorda que é feita nas cozinhas dos bares e apreciada nas mesas pelos frequentadores dá o tom e magia do lugar, para o bem e para o mal. Mas é digno de verdadeiros botecos, sem meio tom. O público é heterogêneo e extrapola aquele dos primórdios do antigo Grande Hotel... De estudantes a engravatados, de artistas a trabalhadores, de comerciantes a intelectuais, de góticos a roqueiros, de modernos a hippies... o que conecta os frequentadores é o lugar, sua fama e história, e obviamente, os botecos e a busca por lazer e diversão, seja nos fins da tarde, seja antes de estender a noite em outros cantos...
Nos anos 70 e 80, os inferninhos que existiam no lugar provocou onda de várias cenas de violência e crimes, o que serviu para a estigmatização do edifício aos olhos mais conservadores.
Contudo a imagem do Maletta é reinventada e recheada de novos elementos em meio a novas gerações e outras experiências, mas as mesmas demandas de diversão. A perenidade da fama dos botecos do lugar servem para lhe confirmar como importante centro da vida cultural da cidade.
A tradição butequeira do Maletta resiste aos estigmas e a um processo (em desconstrução) de deteriorização do centro da capital mineira. O velho e o novo se encontram pelo Malleta e para quem se aventura a entrar na sua "barriga gorda" retangular, tal como parece o prédio que nasceu para ser um colosso de concreto, representando a modernidade na capital.
As entranhas do Maletta e o seu coração são os botecos que lhe dão fama e identidade...
O edifício Archengelo Maleta foi inaugurado na década de 50, no cruzamento da Av. Augusto de Lima e da tradicional Rua da Bahia. O novo prédio se instalou no mesmo lugar que o antigo Grande Hotel, que datava do início do século XX. O café do antigo hotel sempre foi um importante ponto de encontro dos boêmios, artistas, univeritários, políticos da capital e encarnava um cenário importante da vida cultural e social da capital. Mas, naquela época, cheia de glamour e com o provincianismo de tentar imitar os cafés de Paris.
Quando o Maleta ali foi construído nos anos 50, o antigo prédio veio abaixo mas a fama daquele cruzamento permaneceu e se alocou no novo edifício em meio aos vários bares que ali foram se instalando ao longo das décadas seguintes, como a tradicional Cantina do Lucas (desde 1962).
O Maletta foi inaugurado em meio à revolução de costumes e do rápido processo de metropolização que se deu na cidade, a partir do final dos anos 50 e principalmente, os 60. O público fequentador do novo espaço também contemplou as mudanças da sociedade e se encaixou ao perfil de boêmia que o edifício foi concentrando, revelando a simbologia do Maletta para a revolução cultural, social e de comportamento que Belo Horizonte também experimentou durante esse período. Os inúmeros bares que estão instalados até hoje no primeiro e segundo andar da galeria do prédio divide o espaço com os sebos, lojas de disco, barbearias, lan-houses, restaurantes, e outros comércios. Ao longo do dia, e principalmente da noite, os convivas dos bares dividem-se entre as conversas de butequim, as cervejas geladas e os tira-gostos.
O cheiro de comida gorda que é feita nas cozinhas dos bares e apreciada nas mesas pelos frequentadores dá o tom e magia do lugar, para o bem e para o mal. Mas é digno de verdadeiros botecos, sem meio tom. O público é heterogêneo e extrapola aquele dos primórdios do antigo Grande Hotel... De estudantes a engravatados, de artistas a trabalhadores, de comerciantes a intelectuais, de góticos a roqueiros, de modernos a hippies... o que conecta os frequentadores é o lugar, sua fama e história, e obviamente, os botecos e a busca por lazer e diversão, seja nos fins da tarde, seja antes de estender a noite em outros cantos...
Nos anos 70 e 80, os inferninhos que existiam no lugar provocou onda de várias cenas de violência e crimes, o que serviu para a estigmatização do edifício aos olhos mais conservadores.
Contudo a imagem do Maletta é reinventada e recheada de novos elementos em meio a novas gerações e outras experiências, mas as mesmas demandas de diversão. A perenidade da fama dos botecos do lugar servem para lhe confirmar como importante centro da vida cultural da cidade.
A tradição butequeira do Maletta resiste aos estigmas e a um processo (em desconstrução) de deteriorização do centro da capital mineira. O velho e o novo se encontram pelo Malleta e para quem se aventura a entrar na sua "barriga gorda" retangular, tal como parece o prédio que nasceu para ser um colosso de concreto, representando a modernidade na capital.
As entranhas do Maletta e o seu coração são os botecos que lhe dão fama e identidade...
sábado, 26 de junho de 2010
O MERCADO, o templo nº 1
O Mercado Central, inaugurado em 1929, no centro de Belo Horizonte é um dos templos maiores do que visa esse blog, de compartilhar as experiências, sabores e tradições dos botecos e bares da cidade, que lhe dão fama e significado histórico e cultural.
Desde meados da década de 1990, o "Mercado" e a área em torno do mesmo, vem sendo resgatado como espaço de lazer, sociabilidade e encontros. Além de contar com uma ampla rede de lojas a varejo, que vendem de tudo: carnes, temperos, flores, decoração, hortifrutigranjeiros, produtos de beleza, bebidas, salões de beleza, vasilhames, doces, queijos; não para esquecer que o mercado é marcado por concentrar dezenas de bares e botecos, que lhe completam a beleza e os sentidos de ser um dos espaços mais apreciáveis para os entendores, frequentadores e "pesquisadores" da arte de butecar na cidade.
O Mercado é uma mescla de sabores, cores e cheiros. Além dos diversos tipos humanos que transitam pela sua enorme área. Está localizado no quarteirão entre as ruas Santa Catarina, Goitacazes, Curitiba e Avenidas Augusto de Lima e Amazonas. Em cada umas das quatro saídas principais existem um bar de cada um dos lados. Um deles, o bar da Lôra, na saída da Rua Santa Catarina, ganhou com o último festival "Comida di buteco" (2010), com o prato "Garra da Lôra" (epa!). Também na área de alimentação se concentra o restante dos bares e botecos do lugar.
O encanto do e pelo mercado não se dá sem razão. Além de estar estrategicamente localizado na área central de BH, os seus bares que abrem a partir às 08:00 da manhã, são atrativos tanto para esticar a noite, quanto para começar o dia - no que diz respeito à arte de butecar, é claro - principalmente nos finais de semana. Entre uma compra e outra, ou ao fim delas, tomar uma cerveja no balcão, em meio a muito conversa jogada fora, de encontros e novas amizades, e experimentando o tradicional "figado com jiló na chapa", entre um copo e outro, é uma das mais tradicionais e deliciosas formas de se "butecar" em Belo Horizonte. De bares mais sofisticados as mais populares e genuínos butecos, os vários públicos compartilham esse espaço democrático e plural.
Quem não experimentou, não escapará de se tornar um frequentador assíduo do lugar...
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Belo Horizonte: maior número de bares/habitante
Belo Horizonte
112 anos
2.250.000 habitantes
12.000 bares, butecos e afins...
Se a fama e a fala popular dizem e referendam que Belo Horizonte é a cidade dos bares, as estatísticas dão veracidade a essa fama e a confirmam. Entre as capitais brasileiras, Belo Horizonte realmente aparece no topo na lista da relação bares/habitantes.
A média é de aproximadamente é de 1 bar para cada conjunto de 187 moradores.
É uma boa medida da tradição da capital mineira e seus bares...
terça-feira, 22 de junho de 2010
História de BH e seus butecos
Belo Horizonte foi inaugurada em 1897 para ser a nova capital de Minas Gerais, representando um ideal do novo regime republicano, instalado anos antes no país. Um ideal que propunha o uso da ciência e do discurso técnico para empreender a modernização do país extirpando os ranzos da monarquia, do lusitanismo e da escravidão.
A noção de ordem, de higiene, de hierarquia que compôem a planta original da cidade explica o ideal republicano e positivista, que levou à mudança da capital de Ouro Preto para o antigo Curral Del Rey. Os espaços para a localização de cada uma das funções da nova cidade também explicam esse ideal: a área para o lazer (Parque Municipal), para o comércio, para as repartições públicas, o bairro para residir os funcionários públicos, o espaço do Poder Executivo (Palácio da Liberdade)no ponto mais alto da cidade.
Contudo a falta de espaços para a população mais pobre, que vieram fazer a nova capital, também explica um viés excludente dos novos donos do poder, com as velhas práticas de garantir os seus privilégios sem estender melhorias reais para o grosso da sociedade.
Se nesse ideal de uma cidade novinha em folha, o projeto que lhe deu forma e origem tinha como inspiração as reformas urbanas de Paris e Viena, o ícone que demonstraria o grau de civilização de Belo Horizonte seria os cafés chics e elegantes, além dos cinemas.
Contudo na cidade realmente vivida, foram os bares e botecos que deram fama e tradição à Belo Horizonte. Entre as mais diversas classes sociais, e entre os mais diferentes públicos, a identidade boêmia dos belorizontinos foi se construindo pela ida aos butecos, seja para os flertes, os happy hours, fosse para os encontros e despedidas ou a assistência aos jogos do Cruzeiro, do Atlético, do América ou da Seleção. Essa fama butequeira está na origem da cidade no final do século XIX e início do XX, mas se mantém e ecoa até hoje.
Belo Horizonte e seus bares são um casamento que contorna a face e os sentidos da cidade realmente vivida em contraste com a cidade imaginada de seus projetistas e de parte das cabeças pensantes de outros tempos.
"Butecar" é um verbo que se entende entre os belorizontinos, e é compartilhado por quem vem e se mete a entender a cidade e se esbaldar com sua história, que encontra na relação com os bares parte de seu espelho.
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