terça-feira, 22 de junho de 2010

História de BH e seus butecos




Belo Horizonte foi inaugurada em 1897 para ser a nova capital de Minas Gerais, representando um ideal do novo regime republicano, instalado anos antes no país. Um ideal que propunha o uso da ciência e do discurso técnico para empreender a modernização do país extirpando os ranzos da monarquia, do lusitanismo e da escravidão.

A noção de ordem, de higiene, de hierarquia que compôem a planta original da cidade explica o ideal republicano e positivista, que levou à mudança da capital de Ouro Preto para o antigo Curral Del Rey. Os espaços para a localização de cada uma das funções da nova cidade também explicam esse ideal: a área para o lazer (Parque Municipal), para o comércio, para as repartições públicas, o bairro para residir os funcionários públicos, o espaço do Poder Executivo (Palácio da Liberdade)no ponto mais alto da cidade.
Contudo a falta de espaços para a população mais pobre, que vieram fazer a nova capital, também explica um viés excludente dos novos donos do poder, com as velhas práticas de garantir os seus privilégios sem estender melhorias reais para o grosso da sociedade.

Se nesse ideal de uma cidade novinha em folha, o projeto que lhe deu forma e origem tinha como inspiração as reformas urbanas de Paris e Viena, o ícone que demonstraria o grau de civilização de Belo Horizonte seria os cafés chics e elegantes, além dos cinemas.


Contudo na cidade realmente vivida, foram os bares e botecos que deram fama e tradição à Belo Horizonte. Entre as mais diversas classes sociais, e entre os mais diferentes públicos, a identidade boêmia dos belorizontinos foi se construindo pela ida aos butecos, seja para os flertes, os happy hours, fosse para os encontros e despedidas ou a assistência aos jogos do Cruzeiro, do Atlético, do América ou da Seleção. Essa fama butequeira está na origem da cidade no final do século XIX e início do XX, mas se mantém e ecoa até hoje.
Belo Horizonte e seus bares são um casamento que contorna a face e os sentidos da cidade realmente vivida em contraste com a cidade imaginada de seus projetistas e de parte das cabeças pensantes de outros tempos.
"Butecar" é um verbo que se entende entre os belorizontinos, e é compartilhado por quem vem e se mete a entender a cidade e se esbaldar com sua história, que encontra na relação com os bares parte de seu espelho.

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