sábado, 31 de julho de 2010

O Maletta, o templo nº 2

Aos apaixonados e entusiastas da arte de butecar em Belo Horizonte, o centro da cidade é uma pérola. E para quem "buteca" de verdade nessa cidade o Maletta, como é carinhosamente lembrado e chamado, é o principal ponto de referência da região central da capital.
O edifício Archengelo Maleta foi inaugurado na década de 50, no cruzamento da Av. Augusto de Lima e da tradicional Rua da Bahia. O novo prédio se instalou no mesmo lugar que o antigo Grande Hotel, que datava do início do século XX. O café do antigo hotel sempre foi um importante ponto de encontro dos boêmios, artistas, univeritários, políticos da capital e encarnava um cenário importante da vida cultural e social da capital. Mas, naquela época, cheia de glamour e com o provincianismo de tentar imitar os cafés de Paris.
Quando o Maleta ali foi construído nos anos 50, o antigo prédio veio abaixo mas a fama daquele cruzamento permaneceu e se alocou no novo edifício em meio aos vários bares que ali foram se instalando ao longo das décadas seguintes, como a tradicional Cantina do Lucas (desde 1962).
O Maletta foi inaugurado em meio à revolução de costumes e do rápido processo de metropolização que se deu na cidade, a partir do final dos anos 50 e principalmente, os 60. O público fequentador do novo espaço também contemplou as mudanças da sociedade e se encaixou ao perfil de boêmia que o edifício foi concentrando, revelando a simbologia do Maletta para a revolução cultural, social e de comportamento que Belo Horizonte também experimentou durante esse período. Os inúmeros bares que estão instalados até hoje no primeiro e segundo andar da galeria do prédio divide o espaço com os sebos, lojas de disco, barbearias, lan-houses, restaurantes, e outros comércios. Ao longo do dia, e principalmente da noite, os convivas dos bares dividem-se entre as conversas de butequim, as cervejas geladas e os tira-gostos.
O cheiro de comida gorda que é feita nas cozinhas dos bares e apreciada nas mesas pelos frequentadores dá o tom e magia do lugar, para o bem e para o mal. Mas é digno de verdadeiros botecos, sem meio tom. O público é heterogêneo e extrapola aquele dos primórdios do antigo Grande Hotel...  De estudantes a engravatados, de artistas a trabalhadores, de comerciantes a intelectuais, de góticos a roqueiros, de modernos a hippies... o que conecta os frequentadores é o lugar, sua fama e história, e obviamente, os botecos e a busca por lazer e diversão, seja nos fins da tarde, seja antes de estender a noite em outros cantos...
Nos anos 70 e 80, os inferninhos que existiam no lugar provocou onda de várias cenas de violência e crimes, o que serviu para a estigmatização do edifício aos olhos mais conservadores.
Contudo a imagem do Maletta é reinventada e recheada de novos elementos em meio a novas gerações e  outras experiências, mas as mesmas demandas de diversão. A perenidade da fama dos botecos do lugar servem para lhe confirmar como importante centro da vida cultural da cidade.
A tradição butequeira do Maletta resiste aos estigmas e a um processo (em desconstrução) de deteriorização do centro da capital mineira. O velho e o novo se encontram pelo Malleta e para quem se aventura a entrar na sua "barriga gorda" retangular, tal como parece o prédio que nasceu para ser um colosso de concreto, representando a modernidade na capital.
As entranhas do Maletta e o seu coração são os botecos que lhe dão fama e identidade...

3 comentários:

  1. Texto belo e esclarecedor. Não conhecia a sua história.
    Já frequentei (mais) o Maletta e ainda o acho fantástico. Um convite à boemia.

    Abraço,

    Priscilla

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  2. Adorei JP!
    Interessante saber que a heterogeneidade do Maletta vem desde muito e juntando centro e requinte - é mesmo a cara da cantina!!
    Afinal é isso tudo que agrega nosotros!!!
    Beijo!

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  3. Olá João Paulo, gostaria de me aprofundar mais sobre a história do Maletta, você sabe aonde poderia encontrar mais sobre o assunto?
    Grato!!

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